terça-feira, 22 de maio de 2007

Morre lentamente

Morre lentamente quem se transforma em escravo do
hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem
não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos
nos iisa um
redemoinho de emoções,
exactamente o que resgata o brilho nos olhos,
o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está
infeliz no
trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás
de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite, pelo menos
uma vez na vida,
ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando- se da
sua má sorte,
ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de
iniciá- lo,
nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e
nem responde quando
lheperguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções, recordando
sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples ar que
respiramos.


Pablo Neruda



P.S. Morro lentamente...

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