sábado, 29 de outubro de 2011

Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade

3 comentários:

António disse...

Andrade. Génio. Sempre,

Rosário disse...

Eugénio de Andrade sempre,sempre, sempre, sempre, sempre, sempre, sempre, sempre...

Rosário disse...

Mas também Sophia, Pessoa, Florbela Espanca, Mário de Sá Carneiro, David Mourão-Ferreira, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda, Alexandre O'NEILL, Jorge de Sena...enfim, a lista é infinita.AMO a poesia! Ela

"sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca".

Eugénio de Andrade