Estou trabalhar com uma empresa que faz medicamentos para o cancro. E de repente noto em mim um desconforto ao perceber que boa parte da comunicação nesta área sublinha as qualidades morais dos pacientes ou de quem os auxilia. A jovem que revela oh tanta coragem perante a sentença que a consome, o empresário que articula os últimos pensamentos com brio e equanimidade, etc.
Tento analisar a minha repugnância por este tom elevado, repleto de virtudes, e recordo os últimos meses dos meus pais. Nem a moral nem a filosofia lhes valeram e abomino quem, mesmo por inépcia, se arrisca a insinuar que uma boa dose de “coragem” ou outra merda qualquer poderia ter feito a diferença. Há, entre os vivos, uma quantidade excessiva de palermas sentenciosos.
Luis M. Jorge
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