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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Vida difícil com a memória
Sou uma audiência pobre para a minha memória.
Quer que ouça a sua voz a todo o momento,
Mas eu mexo-me, agito-me,
Escuto ou não
Saio, regresso, e saio novamente.
Ela quer todo o meu tempo e atenção.
Não tem problema algum quando durmo.
De dia, o caso é diferente e causa-lhe preocupação.
Ela descobre cartas antigas, ansiosa por mas mostrar
Agita acontecimentos, importantes ou não,
Os meus olhos para o que já foi visto ela reclama,
É para os meus mortos que os chama.
Nas suas histórias, tenho sempre tenra idade.
Isso é gentil, mas a história não muda.
Cada espelho traz-me sempre novidade.
Zanga-se quando encolho os ombros.
E vinga-se, trazendo erros passados,
Facilmente esquecidos, mas pesados
Olha-me nos olhos, sente a minha reacção.
Depois - podia ser pior - dá-me consolação.
Quer que viva para ela e com ela.
Idealmente num quarto escuro e fechado,
Mas os meus planos ainda incuem o sol de hoje,
As nuvens que passam, a estrada que foge.
Por vezes desta memória fico farto.
E sugiro a separação. Até à eternidade.
É então que me olha com piedade,
Porque ela sabe que separado estarei morto.
Quer que ouça a sua voz a todo o momento,
Mas eu mexo-me, agito-me,
Escuto ou não
Saio, regresso, e saio novamente.
Ela quer todo o meu tempo e atenção.
Não tem problema algum quando durmo.
De dia, o caso é diferente e causa-lhe preocupação.
Ela descobre cartas antigas, ansiosa por mas mostrar
Agita acontecimentos, importantes ou não,
Os meus olhos para o que já foi visto ela reclama,
É para os meus mortos que os chama.
Nas suas histórias, tenho sempre tenra idade.
Isso é gentil, mas a história não muda.
Cada espelho traz-me sempre novidade.
Zanga-se quando encolho os ombros.
E vinga-se, trazendo erros passados,
Facilmente esquecidos, mas pesados
Olha-me nos olhos, sente a minha reacção.
Depois - podia ser pior - dá-me consolação.
Quer que viva para ela e com ela.
Idealmente num quarto escuro e fechado,
Mas os meus planos ainda incuem o sol de hoje,
As nuvens que passam, a estrada que foge.
Por vezes desta memória fico farto.
E sugiro a separação. Até à eternidade.
É então que me olha com piedade,
Porque ela sabe que separado estarei morto.
Wislawa Szymborska
domingo, 23 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
domingo, 16 de fevereiro de 2014
Intervalo
Quero ficar sozinha neste espanto
Dum tempo que perdeu a sua forma,
Quero ficar sozinha nesta tarde
Em que as árvores verdes me abandonam.
Dum tempo que perdeu a sua forma,
Quero ficar sozinha nesta tarde
Em que as árvores verdes me abandonam.
Sophia de Mello Breyner Andresen
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Quem me roubou o tempo?
Quem me roubou o tempo que era um
quem me roubou o tempo que era meu
o tempo todo inteiro que sorria
onde o meu Eu foi mais limpo e verdadeiro
e onde por si mesmo o poema se escrevia
Sophia de Mello Breyner Andresen
quem me roubou o tempo que era meu
o tempo todo inteiro que sorria
onde o meu Eu foi mais limpo e verdadeiro
e onde por si mesmo o poema se escrevia
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
A noite e a casa
A noite reúne a casa e o seu silêncio
Desde o alicerce desde o fundamento
Até à flor imóvel
Apenas se ouve bater o relógio do tempo
A noite reúne a casa a seu destino
Sophia de Mello Breyner Andresen
Desde o alicerce desde o fundamento
Até à flor imóvel
Apenas se ouve bater o relógio do tempo
A noite reúne a casa a seu destino
Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Chuva
As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
(...)
sábado, 8 de fevereiro de 2014
A ouvir a chuva que cai do céu
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
José Gomes Ferreira
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
José Gomes Ferreira
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra alto o vento lá fora;
Mas também meu pensamento...
Tem um vento que o devora.
Há uma íntima intenção
Que tumultua em meu ser
E faz do meu coração
O que um vento quer varrer;
Não sei se há ramos deitados
Abaixo no temporal,
Se pés do chão levantados
Num sopro onde tudo é igual.
Dos ramos que ali caíram
Sei só que há mágoas e dores
Destinadas a não ser
Mais que um desfolhar de flores.
Fernando Pessoa
Sopra alto o vento lá fora;
Mas também meu pensamento...
Tem um vento que o devora.
Há uma íntima intenção
Que tumultua em meu ser
E faz do meu coração
O que um vento quer varrer;
Não sei se há ramos deitados
Abaixo no temporal,
Se pés do chão levantados
Num sopro onde tudo é igual.
Dos ramos que ali caíram
Sei só que há mágoas e dores
Destinadas a não ser
Mais que um desfolhar de flores.
Fernando Pessoa
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
As cinzas das palavras
eu não sabia
ou talvez já o tivesse esquecido
como podem ser mortíferas as cinzas
das palavras que um dia tiveram asas
Alice Vieira
ou talvez já o tivesse esquecido
como podem ser mortíferas as cinzas
das palavras que um dia tiveram asas
Alice Vieira
domingo, 2 de fevereiro de 2014
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