domingo, 3 de agosto de 2014

Camané|Já não estar


 
Se às vezes numa rua no lugar
eu penso que um dia hei-de morrer
sei que tudo o que tenho vou deixar
aqui onde hoje estou deixo de estar
e tudo quanto sou deixo de ser

medo da morte não consigo ter
mas outros mais humanos e banais
medos que a gente tem mesmo sem querer
como o medo que eu tenho de morrer

só por querer viver um pouco mais
se consigo a meu modo estar no céu
mesmo vivendo neste chão de inverno
se apenas sou árvore que cresceu
no espaço e no tempo que é o meu
para que havia eu de ser eterno

mas como as minhas cinzas vão ficando
debaixo de uma pedra do jardim
meu amor tu sabes onde me encontrar
e uma flor sobre a pedra vais deixar
de cada vez que lembrares de mim
de cada vez que te lembrares de mim
 
 
Manuela de Freitas

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