domingo, 31 de maio de 2020

Pureza comungada

...
No rio, corre, parada,
A paisagem reflectida;
Há não sei que voz traída
No silêncio do que é mudo;
A luz parece despida;
E uma alegria incontida
Sorri no rosto de tudo.

Miguel Torga

sábado, 30 de maio de 2020

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Excepto estar tudo errado, é assim mesmo: está certo…

Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo.
O pior é que está tudo errado.
[...]

Álvaro de Campos

terça-feira, 26 de maio de 2020

domingo, 24 de maio de 2020

Numa outra vida

[Lucerna, 24 de fevereiro de 2020. Uma eternidade.]

sábado, 23 de maio de 2020

Poemas de mim

Há poemas (de Pessoa, Sophia, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca e tantos outros) a que regresso com regularidade e que, de cada vez que os (re)leio, renasço. São uma espécie de breve encontro com a vida. São poemas de mim.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Isto não é vida, porra!

Já não sei o que é dar um passeio para arejar a cabeça, ler um livro ou dormir mais do que um par de horas por noite. Já não sei o que é viver senão enfiada num cubículo em frente a um ecrã de computador. Já não sei o que é não estar disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana. Basicamente, já não sei nada sobre nada, mas uma coisa eu sei: isto não é vida, porra! 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

É preciso...

[É preciso seguir que o caminho é em frente.]

domingo, 17 de maio de 2020

O futuro perdeu-se no calendário


Eu transmito-te este domingo à tarde,
a voz do vizinho através da parede.

Tu transmites-me a distância que existe
depois do que consigo ver pela janela.

Durante a noite mudou a hora e, no entanto,
continuamos no tempo de ontem.

Como é raro este domingo, não podemos
garantir que amanhã seja segunda-feira.

O futuro perdeu-se no calendário, existe
depois do que conseguimos ver pela janela.

O futuro diz alguma coisa através da parede,
mas não entendemos as palavras.

Lavamos as mãos para evitar certas palavras.

E, mesmo assim, neste tempo raro, repara:
tu e eu estamos juntos neste verso.

O poema é como uma casa, tem paredes
e janelas, é habitado pelo presente.

Olhamo-nos nos olhos pela internet,
estamos verdadeiramente aqui.

O poema é como uma casa,
e a casa protege-nos.

José Luís Peixoto

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Silêncio ruidoso

Hoje, passados dois meses desde o seu encerramento, entrei na minha escola pela primeira vez. Um calafrio percorreu-me a espinha... Nunca o silêncio me pareceu tão ruidoso.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Assobia para o lado

..
Não te rales muito bro
Preocupa-te com aquilo
Que é realmente importante
Quanto ao resto, sabes...
Assobia para o lado
Assobia para o lado

domingo, 10 de maio de 2020

A ausência do tempo

Estamos presos nesta ausência do tempo que não nos deixa olhar em frente, numa espécie de negação de futuro.

Devagar a noite poisa

Devagar no jardim a noite poisa
E o bailado dos seu passos
Liberta a minha alma dos seus laços,
Como se de novo fosse criada cada coisa.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 9 de maio de 2020

Estranha forma de vida

Se é para viver no medo, de máscara e viseira, sem poder abraçar, viajar ou ir a um concerto de música, então, de que  vale viver? 

Ainda ontem tinha vinte anos

...
Tenho percebido que o silêncio é de ouro
num mercado de palavras baratas. E que os olhos ricos
em lágrimas são pobres em sono. Que é mais difícil
reconhecer a qualidade que defini-la, e que para ser elogiado
basta que dê um pouco de mim ou até menos
do que um pouco. Sei ainda que, para o pássaro, 
o céu e a árvore têm as mesmas raízes,
que o tempo que amadurece os frutos
amadurece também os homens e, por isso, 
aquilo que perdi continua a ser meu
enquanto o procurar.


Joaquim Pessoa

terça-feira, 5 de maio de 2020

«Minha pátria é a língua portuguesa.»

(Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego)

Neste Dia Mundial da Língua Portuguesa, recordo uma das palavras mais bonitas da nossa Língua: a palavra SAUDADE! A saudade não se diz, sente-se. Por estes dias, então, sente-se mais do que nunca! Sente-se nos versos dos poetas, nos cantares do nosso povo, no Fado, na literatura... A Saudade é o sal da nossa Língua. Ela identifica-nos como povo, está na nossa génese.Talvez por isso, ela não exista em mais nenhuma Língua. A saudade tem uma Pátria: a Língua Portuguesa. E mais nenhuma.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Andam palavras na noite

Andam palavras na noite
Cansadas de me chamar.
Trago os meus lábios salgados
E algas no paladar.

Eu sou um grande oceano
Que só fala a voz do mar!
Mas já sinto o mar cansado
De pedir o luar ao céu
Que a Noite não lhe quer dar!

Natália Correia

domingo, 3 de maio de 2020

Mother

[Versos de Pessoa e música de Mário Laginha. Beautiful!💖]

Poema à (minha) mãe

...
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Maio

Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.
...
Vinicius de Moraes