terça-feira, 23 de março de 2010

Não se aprende

Não se aprende grande coisa com a idade.
Talvez a ser mais simples,
a escrever com menos adjectivos.
Demoro-me a escutar um rumor.
Pode ser o prelúdio tímido ainda
do cantar de um pássaro, uma gota
de água na torneira mal fechada,
a anunciação do tão amado
aroma dos primeiros lilazes.
Seja o que for, é o que me retém
aqui, me sustenta, impede de ser
uma qualquer vibração da cal,
simples acorde solar, um nó
de luz negra prestes a explodir.
Eugénio de Andrade

3 comentários:

António disse...

"Não se aprende grande coisa com a idade.
Talvez a ser mais simples,
a escrever com menos adjectivos."

Excelente!

Rosário disse...

E do Eugénio podia esperar-se outra coisa?...

António disse...

Acho que não. E cada vez mais convicto disso.