A janela do tempo

Debrucei-me sobre a janela 

Do meu tempo

Quis revisitá-lo

Pensei que talvez

A voz do vento

O acordasse

E me soprasse.

.

Perguntei

Mas esperei em vão

Ouvi apenas

O vazio do silêncio

A ausência do tempo

A sua negação.

.

Foi como se tudo

O que eu quisesse ouvir

Se escondesse de mim

Ou se calasse

Ou me dissesse

Será melhor

... Não.

José Gabriel Duarte

Liberdade

Neste dia em que comemoramos a Liberdade, nunca eu lhe senti tamanha urgência, tal é a clausura que habita dentro de mim.

Crónica de uma professora à beira de um ataque de nervos

Desde que encerraram as escolas e começaram as aulas à distância que eu não sei o que é ter tempo para mim ou para a família. A sensação que eu tenho é que as 24 horas do dia não são suficientes para o tanto que há para fazer. Preparar aulas síncronas e assíncronas para dois anos de escolaridade com alunos em diferentes níveis de aprendizagem. Receber, corrigir e enviar o feedback aos alunos. Atender os telefonemas dos Encarregados de Educação a colocar dúvidas sobre os trabalhos dos alunos ou a queixarem-se que os filhos não querem fazer os TPC's ou que não têm tempo para estas modernices. Como se tudo isto não bastasse, ainda tenho o trabalho burocrático inerente à coordenação de escola, formação duas vezes por semana e reuniões quase dia sim, dia sim.  Em suma, as aulas recomeçaram há duas semanas mas a sensação que eu tenho é que  já se passaram MESES tal é o cansaço físico e emocional. Como diz Pessoa, "O que há em mim é sobretudo cansaço/Não disto nem daquilo,/Nem sequer de tudo ou de nada:/Cansaço assim mesmo, ele mesmo,/Cansaço." 

E tudo era possível

...

E tudo se passava numa outra vida

e havia para as coisas sempre uma saída

Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança

entre as coisas e mim havia vizinhança

e tudo era possível era só querer

Ruy Belo

#adaremdoidacomaporradasaulassíncronas

[Fonte: Luís Cardoso]

Amazing Grace

💔

(Mais) um dia triste

Partiu o autor de um dos livros da minha vida: "História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar". Livro belíssimo! Fica para a eternidade através da sua obra.

Sinto-me com falta de futuro.

😔

Finalmente, algo se sobrepôs à Covid-19...

A minha vida, nos próximos meses, vai ser passada aqui. Basicamente, vai ser uma espécie de duplo confinamento.

Grau de sanidade mental ao fim do 1.º dia: 50% (que é para não dar nota negativa logo no 1.º dia...).

Hallelujah

Um dia de poemas na lembrança

...

Ah, quem pudera 

Ser de novo

Um dos felizes 

Desta aleluia!

Sentir no corpo a ressurreição.

O coração,

Milagre do milagre da energia,

A irradiar saúde e alegria

Em cada pulsação.

Miguel Torga

Ensino à distância

Sou professora do 1.º ciclo, do 1.º ao 4.º ano, e só quem não conhece a especificidade deste nível de ensino é que pode achar que o ensino não presencial, nestas idades,  é possível. Desculpem, mas não é. Nestas idades, a presença física e afetiva do professor é essencial para o processo de ensino-aprendizagem. Para além disso, a aliteracia digital de muitos pais (e professores!), a falta de recursos tecnológicos e as desigualdades sócio-económicas das famílias, irão promover (e agravar!) as desigualdades no acesso ao ensino. O país real, não é o país idílico retratado nas redes sociais e nas televisões com pais e filhos cada qual com o seu computador ligado à internet. Antes fosse.

A poesia é o sol que (ainda) habita em mim

Na inclemência das horas, nos gestos lentos sem antes nem depois, é na poesia que acendo o sol que (ainda) habita em mim.

Tem chovido tanto nos meus versos

Tem chovido tanto nos meus versos

que a chuva se tornou insuportável.

Apesar disso, os pássaros cantam.

São os melros de Messiaen.

Mesmo envelhecido

também o coração canta.

Eugénio de Andrade

Teletrabalho

Comovente!

O amor e dedicação que estas duas criaturas demonstram pela dona (a minha tia) é uma coisa absolutamente comovente!💕

Há doenças piores que as doenças

Desculpem-me a franqueza, mas há por aí muitos idosos que, a pretexto do isolamento imposto pela pandemia, foram abandonados à sua sorte pelos filhos ou outros familiares próximos. Como escreveu Pessoa,"Há doenças piores que as doenças,/Há dores que não doem, nem na alma,/Mas que são dolorosas mais do que as outras." 

Talvez!

...

Talvez na bruma da 

manhã

exista esperança

para o sol

nascer.

Otília Martel

A noite que nos habita

A noite expõe a vastidão das sombras que nos habitam.