quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E assim me despeço de 2009... em poesia!


Poema de Natal

Para isso somos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso somos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.



Vinícius de Moraes

5 comentários:

Unknown disse...

Oh...Assim não posso comentar....Entra com os pés direitos(Os dois de preferência, porque da maneira que isto anda....).

Rosário disse...

Foi melhor assim. O que quer que postasse hoje, não seria agradável de ler. Depois, lá vinham vocês:"Ah! E tal, lá tás tu!Alegra-te, afinal é fim de ano, blá, blá, blá...". Não ia fazer isso, não é? Sabes, como diz o Rui Veloso "Quando a tristeza bate, pior do que eu não há...". E hoje, bateu! Ah! Se bateu!...

Bom Ano! Bjs

Unknown disse...

Por acaso também não foi dos meus melhores dias...

António disse...

Um ano melhor que o anterior!

Unknown disse...

Muito obrigada António. Bem preciso!