O que me dói
É que quando está tudo acabado
Pronto pronto
Não há nada acabado
Nem pronto pronto
Pintou-me a casa toda
Está tudo limpado
O armário fechado
A roupa arrumada
Tudo belo, perfeito.
E no mesmo instante
Em que aperfeiçoamos a perfeição
Uma lasca diminuta, ténue, microscópica,
Não sei onde,
Está começando
Na pintura da casa
E as traças, não sei onde,
Estão batendo asas
E a poeira, em geral, está caindo invisível,
E a ferrugem está comendo não sei quê
E não há jeito de parar.
Millôr Fernandes
2 comentários:
Como eu te percebo...mas já passei essa fase, já estou "curada", agora se o pó cair, já não vou a correr apanhá-lo...estarei mais satisfeita?...Não sei, mas sinto-me melhor.
É mesmo um poema que demonstra a total insatisfação, gostei muito...
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